Amanda Fahur e seus princípios 
Rafaela Tasca 

I. Transposição

Amanda Fahur anuncia-se no campo dos artistas que se dedicam à pintura. Sua primeira exposição individual é nomeada Transposição numa referência direta ao procedimento de transferir para o campo pictórico as fotografias de seu inventário de janelas. Talvez seja do estudo de Arquitetura ou dos domínios de seu próprio ateliê que Amanda atribua valor às janelas. Qual seja a origem, faz-se objeto instigante para seus princípios visto ser elemento que perpassa o ofício do pintor em diversas épocas: presente no retrato, sugerida pela luminosidade da cena ou por delinear o que de fora incide.

No arranjo desta exposição, a obra Janela em concreto (2016) traz um aspecto monolítico não somente por ser um de seus primeiros trabalhos ou pela escolha dos materiais, mas pela transposição de uma imagem fotográfica a partir do seu verbete de estudo num gesto quase mimético entre linguagens. A fotografia atinge sua pintura. Na série seguinte, Janela em janela, a artista estabelece uma desconstrução do objeto valendo-se de fragmentações e sobreposições que se ritmam de modo a destituir rastros da figuração e buscar novas geometrias e perspectivas.

Não se trata de uma operação circunscrita a decompor janelas, mas de uma esfera compositiva que resvala no sentido da synopsis em Platão “um golpe de vista que abarca a multiplicidade do conjunto”, de formulação de ângulos e da autonomia da linha na tensão com o bidimensional do espaço pictórico. As transposições que nos apresenta são calculadas como um projeto ao passo que o afastamento com a imitação cria aproximações com a pintura como objetivo em si. Amanda passa a estruturar um pensamento de outra ordem e a operar na incidência da luz e materialidade da cor. Aprofunda-se na expressão plástica, faz pintura, inaugura mundos.

II. Sistemática

Diante da grande tela de dois metros ainda disposta na parede de seu ateliê, Amanda comenta os horizontes para o título de seu novo trabalho “sistema sem função”, “ofício de artista”, “eletroencefalograma”. Tornou-se um “Sem título” de grandes proporções, monocromático e seguindo a paleta dos vermelhos e seus desvios. De seu repertório imagético não lhe foge a trajetória de outros artistas e se coloca nas leituras de seu tempo elaborando uma aparente engrenagem em moto-contínuo, sem início ou fim.

Engana os que assimilam sua execução ao gesto controlado ou calculado na noção de projeto. Executa com fluidez as formas ameboides (que já adentravam em suas Janelas), o duplo cabo que trama conexões e os pistões de seu circuito. Amanda incorpora ao sistema uma perspectiva atmosférica no jogo tonal que aprofunda a imagem dos elementos dispostos.

O que confere nome ao segundo núcleo desta exposição é a aquarela de grandes dimensões dada nas junções de papéis. Sistemática estrutura sua composição na repetição de elementos que flutuam em terra incógnita: não há fundo posto ao papel. A pureza dos materiais segue proposta em sua Peça 1 feita em ferro e condensando o aspecto tridimensional de seus trabalhos.

Curitiba, PR
Dezembro de 2019




Janela em concreto
Acrílica sobre bloco de concreto aparente
20 x 20 x 20 cm
2016


Peça 1
Ferro soldado
60 x 30 x 15 cm
2018